Thursday

quando meu estômago está podre, ou acabo de vomitar, ou quando sinto dor de cabeça, ou quando tudo vem junto, minha capacidade de organizar as idéias fica umas dez vezes mais aguçada que o normal. minha criatividade, minha receptividade, minha calma pra analisar e o processamento dessas informações fica como eu queria que fossem o tempo todo.
acredito no poder do mal-estar. acho que somos fadados a ter o rabo estourado enquanto sentamos confortavelmente em algum lugar. temos que nadar num rio de cobras para refrescar nossa pele.
aceitar que tudo é necessário é o princípio da responsabilidade. é reconhecer, ao mesmo tempo e progressivamente, seus poderes e limitações.
não porque exista um lado ruim e um lado bom nas coisas, mas porque elas em si se entrelaçam na miséria de existirem e serem só coisas. é a condição humana que vê o que é bom e o que não é. e vemos com olhos humanos, falhos, respiramos com pulmões de engenheiros de chaminés tóxicas, apalpamos com mãos leprosas e lambemos o que deus cagou em cima porque é o melhor que temos. e isso não é ruim porquê simplemente não conhecemos nada melhor.

por isso que um verdadeiro homem é aquele que acorda todos os dias, limpa a remela dos olhos e diz: "nada mudou. sou o mesmo e hoje serei forte como amanhã, mais do que ontém". chore e chorará sozinho. sim, sozinho, porque todo mundo tem mais o que fazer, amigo. todo mundo tem que achar um buraco onde enfiar dinheiro, todo mundo tem que tirar o arroz do fogo porque, senão, as coisas desmontam. e você não vai agüentar o tranco. nenhum par de pernas feitas só de infância suporta o peso de um mundo bêbado. ninguém sequer consegue embriagá-lo tanto assim. não há absinto no mundo para o próprio mundo. e sabe porquê? porque tudo o que é equivalente é igualmente irreal. porque a noção da totalidade é imperfeição. porque é assim que tem que ser. e vai. porque se as coisas fossem perfeitas, como nos meus e nos seus sonhos, eles não seriam sonhos e nós, nós.

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