Sunday

tsssssssssssssss!

mascando bolas de tinta, cá estou! olhem que sábado alegre o desse homem, ele certamente começará a pular e a correr atrás de si mesmo feito uma serpente em transe!
olhem a anaconda sedenta por felicidade, como ela encontra a si mesma no próprio rabo!

que tipo de sinfonia alegra tal coração? não esses acordes trítonos em aço, com certeza! lá já se viu? acorda, bicho! acorda e vai reclamar à fábrica tanta sensibilidade. vai arcar com o defeito numa oficina de garantia dirigida por contrabandistas sulcoreanos - a nação mais isolada do mundo!, isolada de quê, caralhos?! - que eles trocam suas tripas por outras mais baratas. sim, senhor, vão revender seu interior e rir de como ficou satisfeito com a novidade que agora te compõe. isso, babaca. sorria. sorria como uma cobra morta! porque choraria?

agora ele anda. come ratos, pássaros mortos ou que voam baixo, grilos, moscas, baratas, larvas, terra, ovas, bosta, tudo! e quer mais. mas ele olha pra trás e nada há senão as grandes árvores. então escolhe uma delas, a maior, e sobe ao seu topo. é uma escalada e tanto! começa por desfiar seus galhos em verde claro, os ninhos que os habitam, os ovos, as folhas e percevejos. no ponto mais alto do caule, uma membrana de madeira podre. um detalhe que passa pelo paladar como um machucado na banana suculenta . frutos mesmo não há. senão a satisfação da gula, nenhuma nutrição. nada nunca fora perfeito, também...

e vai seiva, e a parte mais grossa do pau chega à sua boca e ele come, como se nada fosse capaz de aumentar a dificuldade para sua incrível saliva tóxica! come, qual cobra do deserto, cada fiapo de vida, de subsistência ou germe de criação, pré-organismos. utopia, amor, sorte, mães, filhos, formigueiros, beija-flores, camaleões, darwin e a sobrevivência, súplicas, fés, deuses, mulheres, ossos, detritos, água, pegadas, laços todos. até que explode!

sim, explode! como um bebê que caga nas fraldas ele mancha trinta anos de terra ao seu redor. agora a felicidade se foi e também a tristeza. só há ele, meia dúzia de pernilongos embaixo da mesa e o rei jaz deitado adormecido no sofá. ele explode e só o que resta é a fome, a avareza, o medo da morte pela escassez, o intervalo, o vão, o nada, a folha em branco.

a fome!